top of page
  • Asset 4
  • Asset 3
  • Asset 2

O falso dilema entre separar ou incluir estudantes com deficiência

O Brasil dispõe de uma das legislações mais avançadas do mundo quanto à educação de pessoas com deficiência. No entanto, assim como já observado em várias outras temáticas em nosso país, não há ainda correlação entre o marco legal e a compreensão das diferentes esferas de nossa sociedade. Quando o assunto vem à tona, observa-se um falso dilema do senso comum que precisa ser esclarecido: é melhor proteger a criança com deficiência em um ambiente mais preparado, com especialistas devidamente capacitados — que é como se imagina uma escola especial —, ou é melhor permitir que ela conviva com os outros estudantes na escola inclusiva?





O Brasil dispõe de uma das legislações mais avançadas do mundo quanto à educação de pessoas com deficiência. No entanto, assim como já observado em várias outras temáticas em nosso país, não há ainda correlação entre o marco legal e a compreensão das diferentes esferas de nossa sociedade. Quando o assunto vem à tona, observa-se um falso dilema do senso comum que precisa ser esclarecido: é melhor proteger a criança com deficiência em um ambiente mais preparado, com especialistas devidamente capacitados — que é como se imagina uma escola especial —, ou é melhor permitir que ela conviva com os outros estudantes na escola inclusiva?


Esse modelo foi testado por décadas e fracassou. O resultado pode ser observado nas várias gerações de crianças que não foram suficientemente desafiadas, o que pressupõe convívio, interação e estímulo contínuo. A evolução das discussões sobre qual deveria ser o encaminhamento, diante desse negativo desfecho, culminaram com a criação da escola inclusiva, em que todos os perfis de alunos estudam juntos.

Essa concepção ainda gera muita insegurança porque uma boa parte das pessoas imagina que a nova proposta considera a simples transferência desses estudantes para o ambiente de convívio. É evidente que a matrícula, por si só, não é suficiente. Para que as coisas corram bem, a escola precisa se transformar. Nos últimos anos, visitei exemplos de uma boa educação inclusiva em várias partes do mundo. E o que tenho observado? Quais mudanças precisam ser promovidas? O assunto envolve várias dimensões que merecem ser discutidas em profundidade. Como exemplos, eu destacaria: (1) investimento na formação dos professores, oferecendo conhecimento e recursos alternativos; (2) tempo para o planejamento das aulas, de forma que as equipes possam discutir cada caso e criar estratégias pensadas para cada turma; e (3) serviços de apoio. O aluno com deficiência pode precisar do atendimento de especialistas, de intérpretes, de cuidadores, etc, mas não substituindo as atividades com os outros discentes, e sim, complementando-as. Não se trata de trocar, mas de somar.


As evidências coletadas por meio de vários estudos ao redor do mundo apontam que a escola inclusiva, com os devidos investimentos, é o caminho necessário para que tais estudantes possam ter a chance de participar para valer da corrida da vida, de alcançar o seu melhor, de conquistar autonomia. Essa é a visão que deveria orientar os gestores responsáveis pela definição e implementação de políticas públicas que versam sobre o atendimento educacional de pessoas com deficiência, transtornos do espectro do autismo e alta habilidade. No final do dia, todos os alunos saem ganhando com um ambiente escolar que valoriza as diferenças e estimula o desenvolvimento de competências fundamentais para o mundo contemporâneo.


A filantropia e o investimento social privado (ISP) têm um enorme potencial de colaborar para o avanço da educação inclusiva no Brasil. Os institutos e as fundações empresariais, por exemplo, representam relevantes fontes de apoio a iniciativas que promovam: (1) formação de educadores na perspectiva inclusiva, (2) produção de dados sobre exclusão, evasão e aprendizagem, assim como (3) articulação de ações de advocacy voltadas ao fortalecimento da incidência em políticas públicas. No final do dia, todos os alunos saem ganhando com um ambiente escolar que valoriza as diferenças e estimula o desenvolvimento de competências fundamentais para o mundo contemporâneo.


*Rodrigo Hübner Mendes é fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva em redes de ensino de diversas regiões do Brasil. É mestre pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP), membro do Young Global Leaders (Fórum Econômico Mundial) e Empreendedor Social Ashoka.

Por Rodrigo Hübner Mendes*

Comments


bottom of page